O ex-presidente Jair
Bolsonaro negou nesta terça-feira (10) ter recebido voz de prisão do
ex-comandante do Exército Freire Gomes durante reunião com os comandantes
das Forças Armadas para apresentação de estudos sobre a adesão das tropas à
tentativa de golpe, em 2022.
A declaração de Bolsonaro foi feita em resposta a pergunta
feita pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante
interrogatório da ação penal da trama golpista que pretendia reverter o
resultado das eleições de 2022.
Bolsonaro desmentiu
o ex-comandante da Aeronáutica Baptista Júnior, que estava no encontro, e
prestou a informação em depoimento à Polícia Federal. A investigações da
PF embasaram a denúncia da
Procuradoria-Geral da República (PGR) contra os réus.
"As Forças Armadas sempre primaram pela disciplina e
hierarquia. Aquilo falado pelo brigadeiro Baptista Júnior não procede, tanto é
que foi desmentido pelo próprio comandante do Exército. Se dependesse de alguém
diferente para levar avante um plano ridículo desse, eu teria trocado o
comandante da Aeronáutica", afirmou.
O ex-presidente
presta depoimento na condição de réu da
ação de uma trama
golpista para tentar reverter o resultado das eleições de 2022 e
impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Bolsonaro responde pelos crimes de golpe de Estado e
tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito. É a primeira vez que
um ex-presidente eleito é colocado no banco dos réus por crimes contra a ordem
democrática estabelecida com a Constituição de 1988.
Ele também responde aos crimes de organização criminosa
armada, dano qualificado pelo emprego de violência e grave ameaça e
deterioração de patrimônio tombado. Se somadas, todas as penas superam os 30
anos de cadeia.
Freire Gomes
No mês passado, ao prestar depoimento como testemunha no
processo, o general Marco Antônio Freire Gomes negou que tenha dado voz de
prisão a Jair Bolsonaro durante a referida reunião.
“Não aconteceu isso [voz de prisão], de forma alguma. Eu
alertei ao presidente que se ele saísse dos aspectos jurídicos, além de não
concordamos com isso, ele seria implicado juridicamente”, afirmou Gomes.
Contudo, o ex-comandante da Aeronáutica confirmou em
depoimento que a ameaça de prisão de Bolsonaro realmente ocorreu
durante a reunião.
Interrogatórios
O relator da ação penal, Alexandre de Moraes, vai
interrogar oito réus acusados de participar do "núcleo crucial" de
uma trama golpista.
Já foram interrogados:
- o
delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid;
- Alexandre
Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
- Almir
Garnier, ex-comandante da Marinha;
- Anderson
Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do
Distrito Federal e
- Augusto
Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional.
Faltam os interrogatórios de Paulo Sérgio Nogueira e de Walter
Braga Netto, general do Exército e ex-ministro de Bolsonaro. As oitivas vão até
a próxima sexta-feira (13)
O interrogatório dos réus é uma das últimas fases da ação
penal. A expectativa é de que o julgamento que vai decidir pela condenação ou
absolvição do ex-presidente e dos demais réus ocorra no segundo semestre deste
ano.