7O Brasil confirmou esta semana o primeiro caso de
vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em um
matrizeiro de aves comerciais no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul.
De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária, trata-se do primeiro foco
de IAAP detectado em sistema de avicultura comercial do país.
Em nota, a pasta destacou que a doença não é transmitida
pelo consumo de carne nem de ovos.
“A população brasileira e mundial pode se manter tranquila
em relação à segurança dos produtos inspecionados, não havendo qualquer
restrição ao seu consumo. O risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe
aviária é baixo e, em sua maioria, ocorre entre tratadores ou profissionais com
contato intenso com aves infectadas (vivas ou mortas)”.
Desde o anúncio do primeiro caso de IAAP no país, China,
União Europeia e Argentina suspenderam as importações de carne de frango brasileira,
inicialmente por um prazo de 60 dias. Apesar do foco ser regional, as
restrições comerciais, no caso da China e do bloco europeu, abrangem todo o
território nacional, por exigências previstas em acordos comerciais com o
Brasil.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que,
desde 2006, casos de IAAP vêm sendo registrados em diversas partes do mundo,
sobretudo na Ásia, na África e no norte da Europa.
Confira, a seguir, as principais perguntas e respostas sobre
a infecção, conforme avaliação da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
O que é a influenza aviária?
A influenza aviária, comumente conhecida como gripe aviária,
é uma doença causada por vírus influenza originários de aves. Esses vírus
pertencem à família Orthomyxoviridae e incluem o A(H5N1). Eles afetam
principalmente aves, mas também foram detectados em mamíferos, incluindo
bovinos. A gripe aviária raramente afeta humanos, mas a orientação é que as
pessoas se mantenham informadas e tomem as medidas preventivas recomendadas.
Como acontece a transmissão?
A forma mais comum de entrada do vírus em um território é
por meio de aves selvagens migratórias. O principal fator de risco para a
transmissão do vírus de aves para humanos é o contato direto ou indireto com
animais infectados ou com ambientes e superfícies contaminados por fezes ou
outros fluidos animais. Depenar, manusear carcaças de aves infectadas e
preparar aves para consumo, especialmente em ambientes domésticos, também podem
ser fatores de risco.
Quais são os sintomas em humanos?
Os sintomas variam de leves – com alguns pacientes até mesmo
assintomáticos – a graves. As principais manifestações relatadas incluem febre,
tosse, resfriado, conjuntivite, sintomas gastrointestinais e problemas
respiratórios.
Qual é o tratamento para a gripe aviária?
Medicamentos antivirais são recomendados para pessoas com
quadros graves ou em risco de desenvolver quadros graves devido a condições
pré-existentes ou subjacentes, como no caso de idosos ou indivíduos com
problemas de saúde crônicos. A orientação é que pessoas que apresentarem
sintomas de gripe aviária entrem em contato com um profissional de saúde para
receber o tratamento adequado.
Pessoas podem morrer de gripe aviária?
Os seres humanos não têm imunidade prévia à gripe aviária,
portanto, o vírus pode causar quadros graves da doença. Entretanto, a OMS diz
ser difícil generalizar a análise com base em dados históricos, já que o vírus
tem evoluído. Desde 2003, cerca de 900 casos humanos de infecção por A(H5N1)
foram relatados, com uma taxa de mortalidade superior a 50%.
Existe uma vacina para gripe aviária?
A OMS atualiza regularmente vacinas em potencial no intuito
de se preparar para eventuais pandemias, o que ajuda a garantir que as doses
possam ser produzidas rapidamente, se necessário. No caso do vírus H5N1
encontrado em vacas leiteiras, a entidade já tem vacinas em potencial prontas
por meio de seu Sistema Global de Vigilância e Resposta à Influenza. Em relação
a vacinas para humanos, a OMS tem acordos com 15 fabricantes de imunizantes
para acessar cerca de 10% da produção em tempo real de uma futura dose contra a
influenza em caso de pandemia. Essas vacinas, segundo a entidade, serão
distribuídas aos países com base no risco e na necessidade para a saúde
pública.
A vacina contra a gripe sazonal protege contra a gripe
aviária?
As vacinas atuais contra a influenza sazonal ou gripe comum
não protegem contra a infecção humana pelo vírus da gripe animal, incluindo os
vírus H5N1.
Quem corre risco de contrair a gripe aviária?
De acordo com a Opas, sempre que houver qualquer tipo de
exposição a animais infectados (como aves domésticas, aves selvagens ou
mamíferos) ou a ambientes contaminados, onde circulam os vírus da gripe
aviária, existe risco de infecção humana esporádica. Casos humanos de gripe
aviária associada ao vírus A(H5N1), segundo a entidade, são isolados. Ao longo
dos últimos anos, cerca de 70 infecções humanas foram relatadas na região das
Américas, sendo 67 nos Estados Unidos (até abril de 2022), uma no Equador (janeiro
de 2023), uma no Chile (março de 2023) e uma no Canadá (novembro de 2024), com
uma morte associada à infecção nos Estados Unidos. A maioria dos casos está
ligada ao contato com a criação de gado (40 casos, todos nos Estados Unidos) ou
aves. A transmissão entre humanos não foi identificada em nenhum desses
cenários.
É seguro consumir ovos e frango originários de áreas com
surto em animais?
Carnes e ovos podem ser consumidos com segurança, desde que
preparados adequadamente. O consumo de carne e ovos crus ou mal cozidos de
áreas com surtos de gripe aviária é de alto risco e deve ser evitado. Da mesma
forma, animais doentes ou que morreram inesperadamente não devem ser
consumidos.
Como preparar carne e ovos com segurança?
A OMS recomenda seguir cinco orientações específicas:
- mantenha
o ambiente limpo;
- separe
alimentos crus dos cozidos;
- longo
tempo de cozimento;
- manter
alimentos em temperaturas seguras;
- utilizar
água e matérias-primas seguras.
É seguro beber leite de vacas infectadas?
Altas quantidades do vírus A(H5N1) foram encontradas no
leite cru de rebanhos infectados. O consumo e manuseio do leite em meio à
transmissão da doença está sendo investigado pela OMS. Produtos lácteos
produzidos com leite seguindo rigorosos padrões de higiene devem ser
considerados seguros para consumo. A OMS e a Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO) recomendam fortemente o consumo de leite
pasteurizado, já que a pasteurização é um sistema eficaz contra o vírus e
outros patógenos. Estudos da Food and Drug Administration (FDA) sobre
pasteurização também mostraram resultados promissores. A OMS alerta,
entretanto, que algumas amostras comerciais de leite pasteurizado nos Estados
Unidos continham fragmentos de vírus. Desde que o leite contenha apenas
fragmentos de vírus e não o vírus vivo ou em sua forma infecciosa, ele é
considerado seguro para consumo. Para trabalhadores da indústria leiteira,
atividades que envolvem o manuseio do leite de rebanhos infectados, como
ordenhar vacas ou limpar a sala de ordenha, podem aumentar a chance de
infecção. Portanto, esses profissionais devem seguir medidas preventivas
recomendadas.
E quanto ao queijo e outros laticínios?
Laticínios feitos com leite pasteurizado e que seguem
rigorosos padrões de higiene são considerados seguros para consumo. No caso do
queijo de leite cru, a sobrevivência do vírus durante a produção está sendo
investigada. Como precaução, a produção de queijo de leite cru em áreas com
surtos não é recomendada.
A carne bovina foi afetada? É seguro consumir carne de
animais afetados?
Não foram relatados casos de detecção em rebanhos de gado de
corte. A OMS recomenda o cozimento completo da carne para reduzir a exposição a
patógenos.
O que tem sido recomendado para prevenir ou controlar
surtos de gripe aviária em animais?
Os países precisam ter um plano de contingência completo e
atualizado para surtos. Recomendações específicas para esses planos podem ser
obtidas de organizações como a Food and Drug Administration (FAO) e a
Organização Mundial da Saúde Animal (WOAH). Equipes envolvidas na vigilância e
na resposta à gripe animal devem ser treinadas para implementar esses planos em
caso de emergência, além de receber recursos necessários para isso. Também é
considerado fundamental que produtores de aves reforcem a biossegurança em suas
instalações, evitando o contato entre aves domésticas e aves selvagens,
inclusive por meio de água e ração. Ainda segundo a OMS, os produtores
desempenham papel fundamental na detecção precoce da doença e precisam ser
capazes de reconhecê-la e notificá-la às autoridades veterinárias, para que a
gripe aviária possa ser descartada ou confirmada e medidas apropriadas sejam
tomadas. A detecção precoce facilita uma resposta oportuna, ajudando assim a
reduzir a propagação do vírus. Indivíduos ou famílias que criam aves para
consumo pessoal também devem estar bem informados sobre como reconhecer uma ave
infectada, quais medidas tomar e como se proteger adequadamente.
Gatos são afetados pela gripe aviária? Existe risco para
humanos que criam gatos?
Os gatos são suscetíveis ao H5N1, incluindo os de estimação
e também felinos selvagens, como tigres, leões e leopardos. Os fatores de risco
para gatos incluem exposição a aves doentes ou mortas, o consumo de aves cruas
infectadas ou a ingestão de leite cru. Gatos infectados podem desenvolver
sintomas graves e morrer em razão da doença. Estudos sugerem que as pessoas
podem transmitir o vírus da gripe sazonal aos gatos, mas o risco da
transmissão, para humanos, através de gatos infectados é classificado como baixo.
A OMS, entretanto, recomenda evitar o contato com animais doentes ou mortos e a
prática de hábitos de higiene ao manusear animais de estimação.
Por que a vigilância animal e a detecção precoce de casos
são importantes?
A vigilância adequada da presença de influenza aviária em
animais, incluindo aves e mamíferos, fornece informações sobre quais subtipos
de influenza estão em circulação. O processo também permite detectar a presença
do vírus com caráter zoonótico mais acentuado, ou seja, possivelmente
apresentando alterações genéticas que podem resultar em maior adaptabilidade à
transmissão de humano para humano, o que é importante para a saúde pública. A
detecção precoce torna possível ainda que os países implementem ações de
resposta rápida para mitigar o risco de transmissão do vírus para humanos.
Com informações da Agência Brasil